quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Nokia

A primeira regra do investimento é não perder dinheiro; a segunda regra é não esquecer a regra nº. 1”.
Warren Buffett

O investidor em valor deve ser conservador e ter presente que a sua primeira tarefa é preservar o capital investido. A actividade de investimento não deve ser encarada de ânimo leve. Exige extrema disciplina, muito perseverança, capacidade de análise e uma forte mentalidade. É necessária muita disciplina pois, num mercado caracterizado por grandes variações do valor dos activos, apenas seguindo um modelo de investimento coerente, sólido e focado, se poderá obter resultados consistentes a prazo. Também exige bastante perseverança na busca constante de valor, de retornos excelentes para níveis adequados de risco. A capacidade de análise, de interpretação, de avaliação de activos e projecção de valores, são a base analítica essencial para a determinação do verdadeiro potencial das oportunidades encontradas. E, por fim, uma mentalidade forte, capaz de aguentar opiniões contrárias e variações significativas adversas, mas que ao mesmo tempo seja flexível de modo que, caso hajam alterações fundamentais que modifiquem a sustentação da análise, seja capaz de incorporar esses novos elementos na análise e agir no sentido apontado por esses novos resultados.

Nokia – Um excelente negócio a um excelente preço

A Nokia é o líder mundial de telemóveis com uma quota de mercado de perto de 40%, aproximadamente igual à soma da quota de mercados dos 4 maiores concorrentes seguintes. Devido à sua dimensão, a Nokia beneficia de significativas economias de escala nas suas operações o que lhe permite produzir, comercializar e distribuir telemóveis mais baratos e com melhores margens de lucro que os seus concorrentes. Apesar de estarem a acontecer grandes mudanças no mercado de telemóveis, particularmente no segmento dos smartphones, a Nokia possui vantagens estruturais que lhe deverá permitir manter a sua quota de mercado, apesar de o mercado de telemóveis estar a verificar uma tendência estrutural de queda dos seus preços médios. Nos mercados emergentes onde as taxas de penetração ainda se encontram em franco crescimento e onde os telemóveis mais vendidos são os de segmentos mais baixos, a Nokia possui grandes vantagens comparativas conducentes a elevadas taxas de rentabilidade, enquanto os seus concorrentes lutam para entrar nesses mercados e para os tornar lucrativos. Em mercados como Índia e China a marca Nokia é votada como uma das mais fortes e respeitadas. Por outro lado, o seu grande portfolio de produtos permite-lhe estar presente em todos os segmentos de mercado. O segmento dos telemóveis inteligentes tem sofrido grandes alterações com a entrada de concorrentes relevantes como a Apple com o seu IPhone e a Research in Motion com o Blackberry, que têm tido grande sucesso. Este é o segmento que está a registar maior crescimento e onde o preço não é a variável chave para o consumidor. No entanto, a Nokia, também neste segmento, possui um portfolio de produtos alargado e tem investido significativamente em software e serviços com o objectivo de desenvolver soluções cada vez mais integradas e competitivas.

A análise histórica dos dados fundamentais da Nokia apresenta-nos uma empresa sólida, com crescimento consistente de vendas e resultados líquidos (14.5%/ano e 11.5%/ano respectivamente nos últimos 5 anos) e rentabilidades médias do capital próprio (acima dos 30%) bastante acima da média do seu sector devido a margens operacionais bastante saudáveis (15% em média nos últimos 5 anos). O seu balanço é extremamente seguro, com muito pouca dívida (11.25% do total dos activos) e uma componente bastante relevante em liquidez (cerca de 7.000 milhões de euros), que lhe permite remunerar o accionista com um dividendo que neste momento representa cerca de 4% da cotação, e lhe atribui bastante flexibilidade na gestão financeira e operacional em tempos muito complicados como os actuais. A Nokia não ficou imune à retracção severa do mercado de consumo de bens duráveis, demonstrada nos resultados do seu quarto trimestre por uma queda dos volumes de vendas de 15%, quedas nas vendas de 19% e quedas de margens operacionais em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Para o ano de 2009, a Nokia estima uma queda no volume de vendas da indústria de 10%. Sem dúvida, que são tempos muito difíceis e de grande incerteza económica, na medida em que não conseguimos prever, no curto prazo e com segurança, uma recuperação. No entanto, as acções da Nokia transaccionam a valores extremamente atractivos e que já descontam cenários extraordinariamente depressivos. A cotação – 9.59 Eur em 30/01/2008 – recuou 60% nos últimos 12 meses. Um PER (Price Earnings Ratio) deprimido de 9 para uma empresa com cash flows consistentes (deverá continuar a gerar resultados operacionais de 6.000 milhões de euros/ano), com boas perspectivas de evolução do negócio e excelentes rácios de rentabilidade parece indicar ser uma verdadeira pechincha e deverá proporcionar muito bons retornos a prazo, para o investidor paciente - o investidor em valor.

Hugo Roque