A 06/03/2009 os mercados de acções americanos fizeram os seus mínimos históricos de mais de uma década. Desde então recuperaram, em média, mais de 30%. Na Europa, os mínimos foram a 09/03/2009. As recuperações foram semelhantes. Nos últimos 2 meses os mercados têm consolidado, os indicadores económicos têm demonstrado algumas melhorias, mas ainda não há sinais claros de viragem, continuando o desemprego a agravar-se. A próxima estação de apresentação de resultados está à porta tendo início já esta semana. As previsões são para mais quedas nos resultados das empresas relativos ao 2º trimestre, pelo que um atenuar destes recuos significaria uma surpresa nos resultados que poderia contribuir para dar mais um impulso aos mercados. Vamos acompanhar. Entretanto, e a estes níveis de avaliação, o mercado continua a oferecer excelentes oportunidades de compra para o investidor em valor, em grandes empresas mundiais. Um desses exemplos é a Pfizer.
A Pfizer (PFE) é a maior empresa farmacêutica mundial, com vendas anuais de cerca de $50.000 milhões de dólares. Detém um portfólio de grandes marcas de medicamentos, como o Lipitor (para o colesterol), o Celebrex (para a artrite), o Viagra (para a impotência), o Lyrica (para a epilepsia e alguns tipos de dor neuropática). Medicamentos recentemente aprovados e com potencial para serem blockbusters incluem o Sutent (para combate ao cancro) e o Chantix (para deixar de fumar).
O sector farmacêutico goza de margens de lucros elevadas devido à protecção contra cópia que os seus produtos conseguem através de patentes com são concedidas por um período alargado de tempo. Como maior farmacêutica mundial a Pfizer detém vantagens competitivas que a distinguem da concorrência. Desde logo a sua larga escala de produção, de investigação e desenvolvimento (I&D) e de marketing e distribuição posicionam-na num nível mais elevado de eficiência, pois lhe permitem obter o melhor custo de produção, um volume de I&D que lhe proporciona maiores probabilidades de descoberta de novos medicamentos (esta força é evidenciada pela sua actual carteira de mais de 100 medicamentos em desenvolvimento e de mais de 300 em investigação), e uma vasta rede de vendas com os melhores resultados. Particularmente nesta área de Marketing e Distribuição, a Pfizer tem demonstrado enorme capacidade para, por um lado, suportar os seus vendedores com grandes campanhas de promoção e estudos exaustivos dos benefícios dos seus produtos e, por outro, proporcionar a empresas mais pequenas um potencial parceiro que detém a estrutura ideal para comercializar os seus produtos. O balanço da Pfizer, de rating AA, suporta toda esta estrutura operacional, demonstrando a sua robustez e segurança. Em termos de performance operacional, a Pfizer conseguiu nos últimos 10 anos uma rentabilidade do capital próprio média de cerca de 25%, com margens de lucro acima dos 20% e crescimento dos resultados a uma taxa anual média de 8%.
No entanto, a Pfizer vive desafios importantes neste momento, pois encontra-se numa situação em que alguns dos seus medicamentos mais vendidos vão ver as suas patentes expirar, incluindo o medicamento mais vendido do mundo, o Lipitor, que representa cerca de 25% das vendas da Pfizer e verá as suas patentes terminarem em 2010/2011. A empresa já se vem preparando à alguns anos para este evento, cortando custos e melhorando a sua performance operacional. No entanto, o passo decisivo foi dado recentemente com o anúncio de fusão com a Wyeth, num negócio avaliado em $60.000 de dólares. Um vez completada a fusão (prevista para o final deste ano de 2009) o Lipitor deve passar a representar cerca de 13% das vendas da nova empresa vendo a sua representação nos resultados da empresa bastante diluída, sendo que a Pfizer vai ganhar, também, uma posição muito mais forte no sector biológico onde a Wyeth detém a vacina Prevnar (contra a Meningite) e o Enbrel (contra a artrite reumatóide). Para além disto, a Pfizer ganha também o promissor portfólio de medicamentos em desenvolvimento da Wyeth, e o potencial de sinergias, através de corte de custos duplicados que vão contribuir para o aumento de resultados. Embora a Pfizer tenha de contrair dívida (no montante de $22.500 milhões) para concretizar este negócio, o seu forte balanço e cash-flows regulares deverão contribuir para a reduzir nos próximos anos, mantendo uma taxa de dividendo que ao preço actual ronda os 4.4%. A Pfizer está também a apostar bastante no mercado de genéricos.
O sector farmacêutico comporta também riscos específicos no que respeita à crescente dificuldade em aprovar novos medicamentos devido a entidades reguladoras cada vez mais rigorosas, às gestores de seguras de saúde que possuem maior poder negocial, e aos riscos de contencioso que embora sejam baixos podem sempre acontecer.
Em termos de avaliação a Pfizer encontra-se no PER (relação entre a cotação do negócio e os resultados que dá) e Price Book (relação entre cotação e o valor contabilístico por acção da empresa) mínimos das últimas duas décadas. Muito barata. No actual contexto de crise mundial, a Pfizer representa uma marca forte, num sector muito estável, com cash flows bastante regulares, margens de lucro e rentabilidades muito acima da média de outros sectores e suportada por um balanço consistente. Um investimento seguro, com um bom dividendo e potencial de valorização do capital.
Hugo Roque