Com os mercados mundiais a recuperarem mais de 60%, em média, desde os mínimos de Março, e estando os principais índices de acções positivos desde o início do ano em cerca de 20%, as oportunidades de investimento, actualmente, não são em tão grande número como as que se verificavam há alguns meses. No entanto, os mercados continuam a evidenciar grande potencial. Apesar de subsistirem problemas graves na economia, como resultado da maior crise desde os anos 30, as avaliações de muitos negócios em bolsa continuam conservadoras e a proporcionar excelentes oportunidades de investimento.
Esta recuperação de mercado não foi equitativa por todos os grupos de acções, verificando-se que foram as acções de mais fraca qualidade, com níveis mais altos de endividamento, com mais prejuízos acumulados, com mais reestruturações em marcha e que, como consequência, mais desvalorizaram em bolsa, que recuperaram mais desde os mínimos dos mercados. Na verdade, no período de maior incerteza, entre Setembro 2008 e Março de 2009, estes foram os títulos mais castigados devido a receios de que poderiam não sobreviver à crise. Uma vez iniciada uma recuperação e dissipando-se, aos poucos, alguns desses receios, os mercados puxaram muitos desses títulos para níveis mais normais.
No entanto, uma categoria de acções praticamente oposta à anterior não teve uma recuperação tão grande. São as acções de boa qualidade, com balanços bastante conservadores, ou seja, com baixo endividamento, e excelentes rentabilidades dos seus negócios, que são representados por grandes marcas a nível mundial. Estes títulos, devido à sua natureza menos volátil, não desvalorizaram tanto no período de maiores convulsões, tendo depois recuperações abaixo da performance média dos mercados. Deste modo, e pelo facto de serem negócios com cash flows muito previsíveis e muito resistentes, conseguimos, neste momento, estimá-los com segurança para o futuro, num prazo bastante razoável, e determinar que são empresas com potencial, que estão subavaliadas e que poderão proporcionar bons retornos.
Uma dessas empresas é a Johnson & Johnson (JNJ): fabricante e distribuidora americana bastante diversificada com produtos e serviços das áreas de cuidados de saúde, nomeadamente do sector farmacêutico, do sector de produtos de consumo e do sector de equipamentos médicos e de diagnóstico. A JNJ é uma empresa multinacional de grande dimensão, com vendas de 63 mil milhões de dólares em 2008, das quais cerca de 50% tiveram origem fora dos Estados Unidos. A empresa opera numa estrutrura descentralizada com mais de 118.000 funcionários e gerou, no último ano, 12 mil milhões de dólares de cash flow, ou seja, de dinheiro em caixa.
Nos últimos 10 anos a empresa obteve um crescimento anualizado de resultados de cerca de 15%/ano, com rentabilidades médias anuais do seu capital próprio de 27% e margens operacionais médias acima de 24%. Estes indicadores revelam o elevado nível de eficiência em que a empresa opera.
A JNJ mantém um balanço conservador tendo, actualmente, a dívida da empresa um peso de 30% sobre o capital próprio. Este balanço é classificado pelas maiores agências de rating de crédito de AAA, o que significa uma posição extremamente conservadora e protegida por um negócio bastante saudável e gerador de excelentes resultados.
A empresa tem aumentado anualmente os dividendos à 45 anos consecutivos, mantendo uma política de distribuição pelos accionistas de 40% dos seus lucros anuais, servindo-se do restante para suportar a sua estratégia de crescimento, seja por intermédio de aquisições, seja por investimento nas áreas de investigação da empresa (normalmente cerca de 10% das vendas).
Durante este período de crise, a JNJ aproveitou alguns dos “saldos” do mercado para adquirir alguns negócios (como a Mentor) e criar parcerias com empresas farmacêuticas de forma a expandir o seu portfólio de produtos e serviços (são exemplos a Cruccel e a Elan). O Warren Buffett, o maior investidor de todos os tempos, e outros investidores em valor têm aumentado significativamente as suas posições na empresa salientando o carácter conservador do negócio aliado ao potencial de expansão a nível mundial, bem como a exposição a um sector, o da saúde, com muito boas perspectivas futuras devido ao envelhecimento progressivo da população, principalmente nos países desenvolvidos.
No seu sector de produtos farmacêuticos, a empresa enfrenta alguns riscos com alguns dos seus medicamentos com maiores volumes de vendas a enfrentarem nos próximos anos perdas de patentes, o que significa que deverão ser substituídos por genéricos. Este risco está previsto pela empresa e deverá ser contrabalançado quer pelo conjunto de medicamentos em desenvolvimento internamente quer pelas aquisições e parcerias recentemente realizadas e mencionadas anteriormente. Outro risco da empresa e do sector dos serviços de saúde será a nova legislação da área da saúde em fase de aprovação pelo governo Obama nos Estados Unidos. Aqui, mais uma vez, a JNJ é protegida pelo nível de diversificação da sua actividade pelo que nenhum sector específico que seja potencialmente afectado terá peso suficiente para atingir significativamente a performance da empresa.
Em termos de avaliação, o Price Earnings Ratio (PER), que significa, quando se compra uma acção, o número de vezes que se paga pelo ano mais recente de resultados da empresa, situa-se nos 13, o que se traduz, igualmente, numa taxa de rentabilidade inicial (os resultados líquidos mais recentes a dividir pelo preço da acção) de 7.6% com uma taxa de dividendo superior a 3%, ou seja, acima das taxas de juros dos depósitos.
Em conclusão, trata-se de uma empresa que tem demonstrado uma performance operacional bastante acima da média, com uma equipa de gestão que tem sabido alocar o capital da forma mais eficiente e com um negócio bastante diversificado, de baixo risco e com elevado potencial de crescimento.
Hugo Roque