Existem muitas formas de investir em bolsa. Pode tentar apanhar a “onda” do momento do mercado, pode comprar as acções que se estão a portar melhor recentemente, pode tentar adivinhar quais as empresas que vão apresentar melhores resultado relativamente ao último trimestre ou pode detectar os gráficos que apontam melhor performance futura mesmo não levando em conta os dados fundamentais da empresa. Pode comprar a acção A porque “O meu cunhado recomendou esta acção” ou a B porque “Eu li sobre esta empresa numa revista”. É fácil, para o investidor comum ser distraído pelas variações diárias das cotações e pelo frenesim informativo que todos os dias é gerado.
No entanto, se não conhecer bem a empresa onde investiu, se não compreender como gera os seus lucros, se não souber quais as suas perspectivas futuras, vai eventualmente tomar decisões erradas de compra ou venda quando a acção evidenciar um comportamento adverso, quando acontecer um evento que tenha implicações para o futuro da empresa ou quando a cotação da empresa já estiver a incorporar expectativas irrealistas.
É possível investir em excelentes empresas a preços razoáveis, que evidenciem vantagens competitivas sustentáveis, deixá-las capitalizar o seu valor, e obter grandes resultados. Surpreendentemente, não existem muitos gestores de carteiras de acções que sigam esta filosofia, apesar de ser usada pelo melhor investidor de todos os tempos: Warren Buffett.
Esta estratégia de investimento é simples (embora não seja fácil):
1. Identificar negócios que possam gerar resultados acima da média por muitos anos.
2. Esperar que as acções desses negócios transaccionem significativamente abaixo do seu valor intrínseco, e comprar.
3. Manter essas acções até: o negócio se deteriorar, as acções ficarem sobreavaliadas ou se encontrar alternativa de investimento com maior potencial.
4. Repetir o processo.
Para se encontrar excelentes negócios com grande potencial a prazo, como indica o primeiro ponto da estratégia de investimento, é necessário concentrar os esforços na análise de negócios e determinar se essas empresas têm o seu futuro protegido por atributos que lhes conferem vantagens competitivas duráveis.
Warren Bufett apelidou este conjunto de vantagens competitivas de Moat, ou seja, o fosso, como os que existiam à volta dos castelos medievais para os proteger dos inimigos e que, no caso das empresas com fundamentos económicos excelentes, contribuem para manter a concorrência afastada do seu negócio.
Como sabemos o propósito das empresas é gerar um retorno para os seus accionistas. Desta forma, aceita capital, investe-o na produção de bens e serviços e ou gera mais capital do que aquele que empregou ou gera menos. Uma empresa que consiga gerar retornos elevados do capital investido durante muitos anos irá capitalizar a riqueza dos seus accionistas a taxas extremamente atractivas.
Empresas que conseguem fazer isto não são comuns, uma vez que a obtenção de retornos elevados atrai concorrentes para o sector o que acaba por reduzir as rentabilidades do negócio. No entanto, algumas empresas resistem aos ataques da concorrência promovendo o seu crescimento por períodos bastante alargados de tempo. Empresas deste género podem preencher a base de qualquer carteira de investimento em acções, com o objectivo de obter um bom retorno com risco minimizado. Empresas como a Johnson & Johnson, a Ebay, a Procter & Gamble ou a Microsoft são extremamente rentáveis e têm sofrido competição intensa durante muitos anos, e no entanto continuam a gerar excelentes retornos do capital.
Existem características estruturais específicas que permitem detectar este tipo de empresas. Os atributos mais comuns que conferem vantagens a um negócio são:
- Activos intangíveis, como marcas fortes, patentes ou licenças regulatórias, que lhe permitem vender produtos e serviços que os seus concorrentes não conseguem rivalizar,
- Produtos e serviços que uma empresa vende e que são muito difíceis de abdicar pelos clientes, criando custos de mudança que conferem à empresa poder de fixação de preços,
- Efeitos de rede, são uma força poderosa de vantagem competitiva que pode permitir manter os concorrentes à margem por longos períodos de tempo,
- Vantagens na estrutura de custos, que podem ter origem nos processos operacionais, na localização, escala ou no acesso privilegiado a determinado activo (uma matéria-prima, por exemplo), que permite à empresa disponibilizar bens e serviços a preços menores que os concorrentes.
No entanto, não nos devemos esquecer que a detecção das empresas com vantagens competitivas é apenas a fase inicial do processo de investimento. Uma empresa com vantagens competitivas duráveis pode ser um fraco investimento se se pagar demasiado pelas suas acções.
Na avaliação de acções, dois factores fundamentais devem pesar: (1) o desconto da acção em relação ao valor justo determinado para a empresa e (2) a dimensão das suas vantagens competitivas. Quanto maior o desconto em relação ao valor justo e maiores as vantagens competitivas da empresa em questão, maior a atractividade do investimento.
Disclaimer: Este comentário consiste unicamente numa opinião do autor e nunca uma recomendação de compra ou venda. As compras e as vendas são da responsabilidade do investidor, bem como os lucros ou as perdas daí resultantes. O Autor pode ter, e provavelmente tem, posições nos títulos referidos. Em caso de dúvida, o investidor deverá procurar contactar um intermediário financeiro, a Euronext ou a CMVM.