Na selecção de investimentos devemos levar em conta 10 princípios fundamentais de investimento. Abaixo elencamos as 10 questões às quais as empresas deverão responder afirmativamente de forma a qualificarem como títulos de inquestionável valor.
1º A empresa apresenta retornos elevados, superiores a 12%, nos capitais próprios de forma consistente? As melhores empresas/negócios são aqueles que geram os lucros mais elevados com o mínimo de capitais investidos. A consistência dessas rentabilidades (nos últimos 10 anos) permitirão à empresa sustentar-se solidamente em períodos mais complicados. A existência de administrações competentes e honestas potenciam a existência deste tipo de retornos.
2º A empresa apresenta retornos elevados, superiores a 12%, no total dos capitais investidos de forma consistente? As fontes de financiamento das actividades das empresas são o seu capital próprio e dívida. As duas têm de ser remuneradas pela empresa, embora de forma diferente (dividendos no caso do capital e juros no caso de obrigações). Uma empresa com rentabilidades bastante acima do custo dos seus financiamentos, a prazo, cria valor para os seus accionistas.
Estes dois princípios indicam vantagens competitivas fortes e possivelmente duradouras que permitirão à empresa: destacar-se relativamente aos seus concorrentes; manter a sua posição estratégica competitiva e perspectivas de rentabilidades; recuperar rapidamente de qualquer infortúnio de curto prazo ao qual o mercado de capitais reage tão exageradamente. Assim, retornos elevados consistentes são essenciais.
3º Os resultados demonstram uma tendência forte de subida? Uma empresa com vantagens competitivas duráveis pode orgulhar-se de lucros por acção elevados, consistentes e em crescimento. Nesta situação será muito mais fácil de se efectuarem previsões relativamente à sua evolução futura, se comparadas com empresas que apresentem historicamente resultados muito voláteis.
4º A empresa tem um balanço conservador? Empresas com endividamento baixo, têm maior flexibilidade de gestão face a crises temporárias no negócio. Por outro lado, possuem a solidez necessária para investir aumentar os seus negócios e alargar as suas vantagens competitivas. Uma regra simples de avaliação do conservadorismo da empresa face à dívida que detém é a de que a dívida de longo prazo da empresa deverá ser inferior a cinco vezes os seus lucros líquidos.
5º A empresa detém vantagens competitivas nos mercados onde opera (activos intangíveis, custos de mudança, redes de utilizadores ou vantagens de custo)? Uma empresa com excelentes margens de lucro e rentabilidades sustentáveis deriva essa performance de um conjunto de qualidades intrínsecas que possibilitam a criação e consolidação das suas vantagens competitivas, que poderão ser:
- Activos Intangíveis: marcas fortes (ex: Coca Cola), patentes de comercialização (ex: Pfizer) ou licenças reguladoras de operação (ex: Moody’s), são alguns dos activos intangíveis que possibilitam às empresas que os detêm obterem margens mais elevadas nos produtos e serviços que vendem pelo facto de se encontrarem numa situação privilegiada que coloca a concorrência num patamar bastante inferior beneficiando a empresa de ganhos de monopólio.
- Custos de Mudança: existem negócios em que os clientes têm bastantes dificuldades em mudar para um concorrente pois os custos dessa mudança são muito grandes. Podem ser custos burocráticos (ex: mudar de banco), ou custos de aprendizagem (ex: mudar de software específico), etc. Esta dificuldade dos clientes dá à empresa poder negocial.
- Redes de Utilizadores: mecanismo poderoso que se traduz no facto de em determinados negócios o produto ou serviço que providenciam só terá valor se existir uma rede de utilizadores alargada. As empresas que detêm essas redes de utilizadores obtêm vantagens competitivas significativas (ex: rede de utilizadores de telemóveis, rede de utilizadores de sistemas operativos – Windows, etc).
- Vantagens de Custo: Processos produtivos mais eficientes, a localização das suas fábricas ou lojas, o acesso aos factores produtivos e as economias de escala de produção da empresa, flexibilizam a sua estrutura de custos e permitem a obtenção de margens de lucro consideráveis.
6º A empresa está inserida num sector demasiado dependente das suas organizações laborais? Empresas nestes sectores raramente têm vantagens competitivas duráveis devido à rigidez da sua estrutura, da legislação laboral e dos custos salariais.
7º A empresa pode aumentar os preços de acordo com a inflação? A empresa tem liberdade para ajustar os preços dos seus produtos de acordo com o aumento dos custos de produção. A inflação é um imposto escondido que pode diluir com o tempo e de forma significativa os retornos de uma empresa. É importante o negócio deter qualidades que lhe permitam aumentar os preços acima da inflação.
8º Como reinveste a empresa os lucros retidos? Investir os lucros na expansão do negócio e/ou nas unidades de negócio mais rentáveis são excelentes formas de aplicar os lucros retidos. Estes investimentos permitirão à empresa criar condições para futuramente obter maiores lucros para os accionistas. No entanto, se as oportunidades de investimento não são efectivas e rentáveis é preferível a distribuição dos lucros pelos accionistas.
9º A empresa recompra acções próprias? A empresa dispõe de duas formas de distribuição dos lucros pelos accionistas: a distribuição de dividendos e a recompra de acções. A recompra de acções é preferível em termos fiscais à distribuição de dividendos pois não são tributadas. Sempre que as acções da empresa transaccionem abaixo do seu valor intrínseco é boa política recomprar acções próprias. Desta forma, a participação de cada accionista na empresa aumentará percentualmente e a um preço baixo o que significará maiores retornos para o futuro sem qualquer custo fiscal.
10º O valor contabilístico da empresa está a subir? Empresas com resultados consistentes, boas rentabilidades dos capitais investidos deverão evidenciar valores contabilísticos dos seus capitais próprios (activos menos passivos) crescentes. O mercado tende, a prazo, a reflectir o valor da empresa.
Seguindo estes critérios rigorosos de selecção de empresas para investimento, a compra de acções não é mais do que a compra de uma parte de um bom negócio. Se esse negócio for comprado significativamente a desconto do seu valor justo (com margem de segurança), como actualmente acontece com muitas empresas cotadas na bolsa, a prazo são de esperar excelentes retornos.
Hugo Roque
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