A Recuperação dos Mercados e das Economias
Afinal o mundo não vai acabar, as empresas continuarão a produzir, as pessoas continuarão a consumir, e a crise há-de ser ultrapassada. A sustentar esta recuperação dos mercados esteve, em primeiro lugar, a estabilização do mercado de crédito que, o ano passado, por esta altura, paralisou. A falência da Lehman Brothers e a tomada de controlo, por parte dos Estados Unidos, de algumas das mais importantes instituições financeiras mundiais, assustou os aforradores levando a um pânico generalizado que congelou o sistema de crédito e, consequentemente, as economias. Os bancos centrais intervieram baixando violentamente taxas de juro para níveis mínimos históricos, ao mesmo tempo que começaram a emprestar directamente aos intermediários financeiros, injectando dinheiro no sistema. Os governos garantiram as poupanças dos contribuintes e o sistema progressivamente estabilizou.
No entanto, as consequências na economia real foram, também, dolorosas. O desemprego aumentou em flecha e o consumo caiu violentamente. Os governos elaboraram imediatamente planos de estímulo económico, que em conjunto com os estabilizadores automáticos, nomeadamente o subsídio de desemprego, contribuíram para que comecemos agora a ver alguns dados recuperação económica. A produção manufactureira recuperou e as vendas a retalho subiram no último mês. A confiança no sistema financeiro e na economia parece regressar gradualmente e isso verifica-se na melhoria dos indicadores de confiança de consumidores e produtores. Governos e Bancos Centrais dizem que ainda é cedo para se retirarem os estímulos pelo que são de esperar mais dados económicos animadores e que comprovem a recuperação.
Não existe consenso entre os economistas sobre se estes primeiros sinais serão de uma recuperação para os mesmos níveis de actividade produtiva antes desta crise, ou se iremos recuperar a um ritmo mais lento, ou de que existem riscos de voltarmos a uma recessão. São evidentes os sinais de que o consumidor está mais reticente em gastar e as taxas de poupança estão a recuperar. Apesar de, temporariamente, este factor ser prejudicial para o crescimento económico ele é, ao mesmo tempo, uma boa notícia a prazo para a economia, pois cria um base muito mais sustentável para o desenvolvimento da actividade económica do que a que tínhamos anteriormente. O desemprego, por seu turno, reage sempre com algum atraso em relação ao início da recuperação económica pelo que, provavelmente, só em 2010 poderemos começar a assistir a um redução neste indicador. Entretanto, deverá ser a componente “Estado” a proporcionar o suporte para a recuperação económica.
Os mercados accionistas, apesar de terem recuperado mais de 50% desde os mínimos de Março deste ano, estão ainda cerca de 30% abaixo dos níveis máximos de 2007. Não quer dizer que vamos regressar rapidamente para esses valores. Muito dificilmente. Mas significa que temos ainda muito potencial de recuperação. As várias classes de activos dos mercados tendem, a prazo, a reverter para uma média estável de retornos positivos, ou seja, grandes quedas são seguidas de grandes subidas e vice-versa. E, na verdade, de entre os vários activos disponíveis para o investidor aplicar as suas poupanças (acções, obrigações, depósitos, imobiliário), são as acções que apresentam, a prazo, as melhores rentabilidades.
Acções para o Longo Prazo
Num artigo do Jornal Expresso do passado dia 29 de Agosto, foram analisados os retornos de várias classes de activos durante os últimos 16 anos, ou seja, de 1993 até Agosto deste ano. A conclusão foi a de que, nesse período de tempo, o melhor investimento foram as acções com rendimentos anuais de 9,23%, apesar de durante este período termos tido duas grandes correcções no mercado de capitais, a primeira entre 2002 e 2003 e a segunda entre 2007 e 2009, esta a pior crise dos últimos 80 anos. Num período onde a inflação anual se situou nos 3,3%, a dívida pública obteve um desempenho de 7,9%, os certificados de aforro 5,6% e os depósitos a prazo conseguiram 4,2%, ainda assim acima da inflação. A classe do imobiliário foi a que apresentou a pior performance com uma rentabilidade anual de 2,5% ao ano.
Vários outros estudos internacionais comprovam estes mesmos resultados em mercados estrangeiros. De facto, se compararmos os retornos das várias classes de activos ao longo dos últimos 86 anos (de 1921 a 2003) para o mercado americano, como podemos ver no gráfico anexo, a diferença entre aplicar 1 dólar em acções em 1921 e aplicar em acções do tesouro americanos é de 7.403,00 dólares apesar de termos tido pelo meio um Grande Depressão, uma Guerra Mundial, duas crises petrolíferas, o crash de 1987 e o rebentar da bolha tecnológica em 2000.
Realmente visionário foi o que disse um corrector numa edição do “Wall Street Journal” de 1930, em plena Grande Depressão: “Quando este reajustamento económico e de mercado estiver completado, será meramente representado por uma pequena curva decrescente na nossa resistente curva de prosperidade, consumo, produção e eficiência.” Não poderemos afirmar o mesmo agora?
Hugo Roque
Sem comentários:
Enviar um comentário