Para a aferição da qualidade e potencial de um negócio são necessárias análises das suas mais diversas vertentes, desde a eficiência da componente operacional, que lida directamente com a produção, até ao alcance do marketing da empresa e a sua eficácia na criação de imagens e marcas fortes. A qualidade do departamento de vendas é também importante bem como o trabalho da gestão do negócio, que é responsável não só por diariamente encontrar soluções para os problemas da empresa mas, também, pelas difíceis tarefas de alocação de capital e da definição da orientação estratégica de crescimento da empresa, que contribua para a consolidação de cada vez maiores vantagens competitivas do negócio em relação à concorrência.
Frequentemente, os media preocupam-se com a divulgação do nível de lucro absoluto que as empresas apresentam, como forma de determinarem o seu grau de sucesso. No entanto, bem mais importante é o resultado obtido pelo negócio em relação ao capital investido, na medida em que este rácio é um indicador muito mais robusto do nível de cash flows que a empresa terá capacidade de gerar e também das oportunidades de crescimento futuro que poderá aproveitar.
Digamos, por exemplo, que a empresa A e a empresa B apresentam mil euros/ano de lucro, e têm vindo a crescer os seus lucros a 10% ao ano. A empresa A e empresa B estão na mesma indústria e são semelhantes, excepto no facto de a empresa A ter um património de 5000 euros, enquanto que a empresa B possui activos totais de 20.000 euros. Supondo que ambas estão a cotar em bolsa ao mesmo preço, qual empresa será preferível para investir?
Pode parecer, intuitivamente, que a empresa B é mais desejável. Afinal, quem não gostaria de ser dono de 20.000 euros de valor em activos em vez de 5000? Mas, na verdade, se se acreditar nas perspectivas de crescimento desta indústria, a empresa A é o melhor investimento. A conclusão resulta da análise do retorno dos activos (por vezes é substituído por outro rácio semelhante, o retorno sobre o capital investido), que é uma medida do género de retorno que um investidor recebe pelo seu dinheiro investido.
Para cada euro que a empresa A investe nos seus activos, 0,20 transformam-se em lucro (ou seja um retorno nos activos de 20%), enquanto a empresa B apenas consegue gerar 0,05 euros (retorno de 5%). Se estas empresas tivessem como objectivo crescer os seus resultados 100 euros este ano, os proprietários da empresa A só teriam de investir 500 euros para obterem esse retorno, permitindo que o montante remanescente do lucro (1000 euros) possa ser pago em dividendos ou em recompras de acções. Por outro lado, os accionistas da empresa B teriam de investir 2000 euros para obter o mesmo retorno absoluto de 100, o que significa que não veriam distribuídos quaisquer dividendos, e a empresa teria, inclusivamente, de se financiar, recorrendo, por exemplo, a empréstimos bancários para obter o montante necessário para fazer o investimento.
Frequentemente, os investidores vêm o crescimento futuro de uma empresa, mas não consideram os custos desse crescimento. Todas as empresas necessitam de investimentos em activos com o objectivo de apoiar o crescimento, seja na forma de activos fixos (como edifícios ou máquinas), de fundo de maneio (fundos de tesouraria que permitam gerir pagamentos a fornecedores, compra de mercadorias e matérias-primas e crédito a clientes), ou mesmo para a aquisição de outras empresas. As empresas com os melhores e sustentáveis retornos sobre os activos (ou sobre os capitais investidos) são as que mais recompensam os seus investidores com dividendos reais, e não apenas com lucros no papel.
Para o investidor em valor que procura boas empresas onde investir, é importante analisar a eficácia da empresa na utilização dos activos que tem à disposição e a sua transformação em lucros para o accionista. Comparando, por exemplo, o BCP com o BES verificamos que o BCP teve um retorno nos activos no último ano de 0.24% enquanto o BES obteve 0.66%, indicando uma melhor performance do BES. Talvez por consequência desta diferença se verifique que o BCP transacciona em bolsa a uma cotação equivalente a quase metade do seu valor contabilístico (ou um rácio price to book de 0.51) enquanto o BES negoceia a cerca de 63% (price to book de 0.63). Ambos os títulos estão a desconto em relação ao valor total que apresentam de activos menos as dívidas, consequência, aliás, da grave crise financeira de 2008 e dos recentes problemas do risco de crédito de Portugal, mas a pior performance do BCP em termos de retornos, apesar de apresentar lucros, prejudica mais o seu desempenho em bolsa.
Disclaimer: Este comentário consiste unicamente numa opinião do autor e nunca uma recomendação de compra ou venda. As compras e as vendas são da responsabilidade do investidor, bem como os lucros ou as perdas daí resultantes. O Autor pode ter, e provavelmente tem, posições nos títulos referidos. Em caso de dúvida, o investidor deverá procurar contactar um intermediário financeiro, a Euronext ou a CMVM.
Hugo Roque
2 comentários:
Excelente artigo
Obrigado UIQUI!
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