segunda-feira, novembro 15, 2010

Acções

Uma acção é um título financeiro que representa uma parcela do capital social de uma empresa - sociedade anónima. É com o capital social que as empresas iniciam a sua actividade comprando máquinas e mercadorias, pagando salários dos seus trabalhadores e administração e todas as despesas de produção. Deste modo, as acções significam uma pequena porção de um negócio que desenvolve a sua actividade com vista à realização de lucros, valorização do capital investido e à distribuição de dividendos pelos seus accionistas.

As acções podem ser transaccionadas ao balcão (OTC), ou seja, tendo como intermediário uma instituição bancária, ou através de uma bolsa de valores, se a empresa optar por cotar o seu negócio em bolsa. Neste caso, a empresa coloca à venda em bolsa um determinado número inicial de acções, no chamado mercado primário. Seguidamente, essas acções podem ser transaccionadas entre os investidores, no mercado secundário, onde são realizados os negócios, apuradas as cotações, e onde as empresas têm deveres de prestação de informação financeira regular e de notícias relevantes para o futuro do negócio.

O número de acções que representam o capital de uma empresa é subjectivo e fica normalmente ao critério dos sócios-fundadores a sua definição. Pelo facto do número de “fatias” em que é cortado o “bolo” do capital social poder ser variável, não se pode comparar directamente o preço de duas acções simplesmente pelo seu valor absoluto, uma vez que pode simplesmente significar que, por exemplo, uma acção tem uma cotação mais alta pois tem menos acções/”fatias” a representar o seu capital.

A propriedade de acções confere vários direitos aos seus detentores, nomeadamente:
- Direito de assistência e voto nas Assembleias Gerais, sendo o voto proporcional à quantidade e classe das acções detidas (podendo existir diferentes classes com diferentes direitos de voto);
- Direito à distribuição de dividendos se para tal existirem resultados e essa for a decisão da sociedade, em função da quantidade de acções detidas, e da respectiva classe;
- Direito à quota-parte da situação líquida apurada no caso de liquidação da sociedade.

As empresas, para a abertura do seu capital em bolsa, podem ter como motivação: a necessidade de angariação de capital para suporte da sua actividade operacional e de planos de expansão; permitir aos seus accionistas uma valorização mais fácil e imediata das suas acções; dar liquidez aos accionistas para poderem gerir com maior flexibilidade as suas posições; para abrirem o capital a novos accionistas de referência, etc.

Depois de cotadas em bolsa, as acções podem estar sujeitas a diversos eventos, sendo de destacar os aumentos de capital (quando a empresa faz uma nova ronda de emissão de acções para angariação de novo capital), os splits (quando a empresa decide dividir o seu capital/“bolo” por um maior número de “fatias”) e os spinoffs (quando a empresa decide separar um negócio independente da actividade base da empresa, distribuindo pelos seus accionistas acções desse negócio).

Acções para o Longo Prazo

Num artigo do Jornal Expresso do ano passado (Agosto de 2009), foram analisados os retornos de várias classes de activos durante os últimos 16 anos, ou seja, de 1993 a 2009. A conclusão foi a de que, nesse período de tempo, o melhor investimento foram as acções com rendimentos anuais de 9,23%, apesar de durante este período termos tido duas grandes correcções no mercado de capitais, a primeira entre 2002 e 2003 e a segunda entre 2007 e 2009, esta a pior crise dos últimos 80 anos. Num período onde a inflação anual se situou nos 3,3%, a dívida pública obteve um desempenho de 7,9%, os certificados de aforro 5,6% e os depósitos a prazo conseguiram 4,2%, ainda assim acima da inflação. A classe do imobiliário foi a que apresentou a pior performance com uma rentabilidade anual de 2,5% ao ano.

Vários outros estudos internacionais comprovam estes resultados em mercados estrangeiros. De facto, se compararmos os retornos das várias classes de activos ao longo dos últimos 86 anos (de 1921 a 2003) para o mercado americano, como podemos ver no gráfico anexo, a aplicação de um dólar em bilhetes do tesouro americano (dívida de curto prazo) resultaria hoje num valor de 26$, enquanto que o mesmo investimento em acções valorizaria para 7.429$, ou seja, cerca de 285 vezes mais. Isto apesar de termos tido pelo meio um Grande Depressão, uma Guerra Mundial, duas crises petrolíferas, o crash de 1987 e o rebentar da bolha tecnológica em 2000.



O Investimento em Valor

No entanto, o investimento em acções para ser bem sucedido a prazo, deve ser fundamentado e focado na detecção de bons negócios a preços baixos e que permitam a obtenção de uma margem de segurança do investimento, que proteja o capital investido e maximize a sua rentabilidade. Esta filosofia de investimento foi desenvolvida nos anos 30 e denomina-se Investimento em Valor. Segundo os seus fundadores, Benjamin Graham e David Dodd, uma operação de investimento deve ser, obrigatoriamente, caracterizada por uma análise cuidada, e deve prometer, a prazo, a segurança do capital investido e um retorno satisfatório. Todas as operações que não se enquadrem nesta categoria devem ser consideradas de operações especulativas.

“O investimento em acções é mais inteligente quando é focado no negócio”, diriam. Se não o fizer, o investidor corre o risco de ficar com empresas que não compreende, de se assustar mais facilmente com movimentos adversos das cotações ou de se preocupar com notícias que não são as mais relevantes para o futuro do negócio. Investimentos mal definidos e preparados podem ser extremamente custosos.

Enquadrado nesta filosofia, o investimento em acções pode ser encarado como um investimento num activo que, indirectamente, produz rendimentos (os lucros) sobre os quais o accionista tem direito. Tal como um imóvel que produz rendas ou uma obrigação que paga juros sob a forma de cupão. Esses rendimentos obtidos acabam por se reflectir, a prazo, no valor das cotações, e podem crescer com o tempo.

O investimento em acções pode ser um tarefa simples, mas não é fácil. Implica análise criteriosa dos dados da empresa, disciplina, enfoque na determinação do valor dos negócios que se selecionados e paciência para a realização do investimento apenas quando se obtém margem de segurança para o fazer e para esperar que o mesmo dê frutos a prazo. Um investimento conservador é um investimento que compra um activo a um preço substancialmente inferior ao que realmente vale.

Parafraseando o melhor investidor de todos os tempos, Warren Buffett, investir em acções é comprar negócios (ou uma percentagem desse negócios) com fundamentos económicos excelentes, geridos por pessoas honestas e capazes a preços substancialmente abaixo do seu valor justo. Investir deve ser antes de mais proteger o capital inicial e potenciar a sua rentabilidade para o futuro.

Disclaimer: Este comentário consiste unicamente numa opinião do autor e nunca uma recomendação de compra ou venda. As compras e as vendas são da responsabilidade do investidor, bem como os lucros ou as perdas daí resultantes. O Autor pode ter, e provavelmente tem, posições nos títulos referidos. Em caso de dúvida, o investidor deverá procurar contactar um intermediário financeiro, a Euronext ou a CMVM.

Hugo Roque

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