segunda-feira, dezembro 15, 2008

O Investimento em Valor

O Investimento em Valor (Value Investing) é uma filosofia de investimento introduzida nos anos 30 pelos professores Benjamin Graham e David Dodd da Colombia Business School e consolidada em livro através do histórico texto “Security Analysis”. Segundo os fundadores desta filosofia, uma operação de investimento deve ser, obrigatoriamente, caracterizada por uma análise cuidada, prometendo, a prazo, segurança do capital investido e um retorno satisfatório. Todas as operações que não se enquadrem nesta categoria devem ser consideradas de operações especulativas.

A base do Investimento em Valor deriva do facto de se dever entender o investimento em acções como um investimento racional em negócios, que devem ser cuidadosamente analisados, entendidos, avaliados e acompanhados. Deve-se investir em activos cujo preço seja substancialmente inferior ao seu verdadeiro valor, ou seja, o seu valor intrínseco, que deve ser determinado através de um método de análise fundamental. A regra de investimento é básica e não podia ser mais lógica: comprar barato para vender caro.

Graham e Dodd chamam à atenção para a necessidade da existência de uma margem de segurança na altura do investimento por forma a que este esteja protegido em relação a evoluções desfavoráveis imprevistas do negócio e que ao mesmo tempo apresente um potencial de retorno bastante razoável. Esta regra previne o investimento em relação a perdas efectivas de capital e limita as oportunidades de investimento àquelas que são, de facto, as melhores do mercado.

O maior herdeiro deste paradigma de investimento é o aluno e discípulo de Graham, Warren Buffett, o investidor mais bem sucedido de todos os tempos e homem mais rico do mundo, que norteia os seus princípios de investimento segundo as regras do Investimento em Valor. Buffett evoluiu a filosofia do seu mestre no sentido qualitativo da procura de valor a preços razoáveis, tendo subjacente: a procura de bons negócios, com boas perspectivas de evolução futura; com vantagens competitivas duráveis em relação à sua envolvente concorrencial (marcas fortes, patentes, redes de utilizadores, vantagens de custos devido a economias de escala, …); que sejam modelos de negócio compreensíveis e para os quais seja mais fácil estabelecerem-se previsões; com administrações honestas e competentes; e que estejam a transaccionar a preços sensivelmente abaixo do seu valor intrínseco, providenciando uma margem de segurança que aumente a protecção do capital e diminua o risco.

O Investimento em Valor é defendido pelos mais variados e reconhecidos estudos estatísticos de retornos do mercado, produzidos pelas melhores faculdades de finanças americanas, como a teoria de investimento que providencia aos investidores as melhores rentabilidades a prazo. Warren Buffett, por seu turno, apresenta, na prática, a performance de uma série de investidores com uma linha de comum - o investimento em valor – no seu famoso artigo de 1984, “The Superinvestors of Graham-and-Doddsville”. Buffett apresenta-nos a performance de investidores como Charles Munger (seu sócio), Walter J. Schloss e William J. Ruane (amigos) e outros que conseguiram desempenhos notáveis como investidores (em média mais de 10%/ano em relação à performance do mercado entre os anos 60 e 80) investindo em valor, a prazo e com segurança. Todos estes dados indicam-nos que a lógica de investimento em valor faz todo o sentido e os seus resultados são excelentes.

Num mercado caracterizado excessiva volatilidade, pelo medo mas também pela ganância, é muito fácil para um investidor comum perder a calma e cometer erros que, a prazo, podem ser extremamente custosos. O Investimento em Valor pressupõe, na verdade, que o investidor se deva manter, em todas as situações, focado no valor dos seus negócios e oportunidades de investimento a prazo e que se mantenha consciente e fiel aos seus princípios de investimento, sendo que as variações de curto prazo devem, unicamente, ser aproveitadas pelo investidor em valor para a realização de bons negócios tendo sempre presente o sentido oportunístico da regra: comprar barato e vender caro.

Hugo Roque

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