terça-feira, dezembro 23, 2008

As Flutuações dos Mercados

No último artigo falávamos da volatilidade dos mercados, particularmente no momento actual, e de como uma estratégia baseada na racionalidade, concentrada na avaliação dos fundamentais dos negócios e focada no longo prazo, poderia resultar em excelentes retornos e segurança do capital investido.

Benjamin Graham, um dos fundadores da Teoria de Investimento em Valor, defende que os investidores devem estar preparados, financeira e psicologicamente, para grandes flutuações do mercado, pois elas inevitavelmente acontecem e na sua grande parte de forma completamente imprevisível. Os mercados cometem inúmeros erros de avaliação de curto prazo e o verdadeiro investidor em valor não se pode deixar afectar por variações adversas sem racionalidade subjacente.

Graham apresenta-nos o mercado accionista, ou o Senhor Mercado (Mister Market) como ele lhe chama, como uma entidade bastante sensível, que num dia pode estar muito bem disposto mas no outro pode ficar deprimidíssimo. Segundo Graham nunca se deve seguir as tendências de mercado porque, no curto prazo, este funciona como um sistema de contagem de votos que segue a disposição diária do Senhor Mercado, mas a prazo ele actua como uma balança, em que o valor fundamental dos activos pesa mais e isso, inevitavelmente, transparecerá na suas cotações. Assim, os vários humores do Senhor Mercado devem ser unicamente aproveitados para a tomada de decisões de investimento racionais. Não devemos reagir a quente perante movimentos bruscos do mercado se não há alterações fundamentais na estrutura desse negócio.

Concerteza que não passa pela cabeça de um empresário, que conhece o seu negócio e o seu valor, em vendê-lo e muito menos a qualquer preço, apenas porque outros dizem que ele vale muito menos. E o mesmo para que detém uma casa ou um terreno, exactamente porque têm consciência do real valor desses activos. A prazo o mercado avaliará correctamente os activos.

No entanto, no mercado de acções, os investidores muito mais facilmente entram em pânico ou em euforia pois existe uma diferença. É que existe o tal Senhor Mercado que, todos os dias, diz o que ele acha que valem todos os negócios cotados em bolsa, provocando os maiores calafrios (quando caem) ou a maior ganância (quando sobem) para quem os detém pois todos os dias têm valores diferentes para os seus negócios. No entanto, para quem está consciente do valor dos activos que possui em carteira e das oportunidades existentes no mercado, essas variações devem ser apenas aproveitadas para a tomada de decisões racionais de investimento: comprar o que está barato e vender o que está caro.

A teoria económica dominante relativamente ao comportamento dos mercados financeiros é a Teoria dos Mercados Eficientes que nos diz que é impossível extrair-se retornos significativamente acima dos retornos médios do mercado como um todo uma vez que os mercados incorporam a todo o tempo toda a informação disponível em cada momento. Diz-nos também que o risco do investimento em activos financeiro se traduz simplesmente por uma medida da volatilidade desses mesmos activos.

Nada de mais errado. A performance histórica de uma série de investidores em valor, entre os quais Warren Buffett e os seus 23% de retorno anual em mais de 40 anos à frente da sua empresa – Berkshire Hathaway – e que o fizeram homem mais rico do mundo, e os resultados dos mais variados estudos de retornos de mercados, como o estudo de Eugene Fama que provou que portfolios de acções baratas obtêm desempenhos significativamente superiores do que portfolios de acções mais caras, demonstram que não só é possível obter melhores retornos do que o mercado, como o é possível seguindo uma estratégia racional, disciplinada e segura.

A noção de risco no Investimento em Valor nada tem a ver com volatilidade mas sim com a amplitude da margem de segurança na altura do investimento em relação ao valor intrínseco do negócio. Se uma acção cai muito mas o valor perceptível pelo investidor pouco se altera, essa acção não fica mais arriscada porque a volatilidade do seu preço aumenta, antes pelo contrário, ou seja, se o seu valor intrínseco se mantém, o risco do investimento diminui pois a margem de segurança é maior. O ponto-chave do investimento em valor é a escolha de negócios compreensíveis e estáveis a prazo, que detenham vantagens competitivas duráveis e que estejam à venda a um preço que permitam ao investidor uma margem de segurança razoável do investimento. Deve-se investir para o futuro protegendo o presente.
Assim, o momento actual do mercado, numa perspectiva de investimento em valor, deve ser encarado como uma oportunidade única de investimento. O Senhor Mercado está de muito mau humor e está a vender tudo sem olhar para o preço a que está a vender. Warren Buffett e outros investidores em valor consideram que o mercado está baratíssimo e que esta é a altura de investir. As acções estão a cotar a valores que já não se viam há décadas, em termos de avaliações. Esta é uma oportunidade histórica.

Hugo Roque

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