A EDP - Energias de Portugal, SA gera, abastece e distribui electricidade e gás em Portugal e Espanha. A empresa, através de subsidiárias, possui igualmente negócios de distribuição, produção e fornecimento de energia eléctrica no Brasil e operações de geração de energia eólica em, entre outros países, Espanha, Portugal, França, Bélgica, Estados Unidos.
A empresa apresentou os seus resultados relativos ao ano de 2009 na passada Quinta-Feira, dia 4 de Março. A Energias de Portugal anunciou que os resultados líquidos do ano passado desceram 6,2% para 1,024 mil milhões de euros. A queda dos lucros é explicada sobretudo pelo facto de em 2008 a companhia liderada por António Mexia ter obtido um ganho de capital não recorrente de 405 milhões de euros resultante da dispersão da EDP Renováveis em bolsa nesse ano. Em termos recorrentes, ou seja, excluindo ganhos os perdas extraordinários, os lucros de 2008 foram de 925 milhões de euros, pelo que no ano passado foi a primeira vez que a eléctrica obteve lucros recorrentes acima de mil milhões de euros, representando, deste modo, uma subida de 10,7%, com a empresa a beneficiar de melhorias operacionais dos seus negócios, menores custos com pagamento de juros e perdas menores em participações financeiras.
O EBITDA em termos recorrentes da EDP, ou seja, os resultados operacionais (antes de juros, impostos e amortizações), subiu 13% para 3,361 mil milhões de euros. A empresa destacou que no quarto trimestre o aumento do EBITDA foi de 19%, sendo que as actividades liberalizadas na Península Ibérica e o negócio de energia eólica foram os que mais contribuíram para a melhoria operacional no ano passado.
A actividade da EDP, em termos de resultados EBITDA, encontra-se dispersa da seguinte forma: 19% em actividades liberalizadas de energia na península ibérica; 16% no Brasil através da sua participada Energia do Brasil; 16% relativos às operações de energia eólica; 25% em actividades reguladas de energia na península ibéria; e 24% em contractos de geração de energia de longo prazo na península ibérica. Ou seja, um total de 81% dos resultados da EDP deriva de actividades reguladas, o que se traduz num carácter muito estável e previsível da sua actividade. Mais de 50% dos resultados da EDP já têm origem fora de Portugal providenciando diversificação e flexibilidade operacional à empresa.
Em termos de perspectivas de crescimento, a EDP concentra os seus investimentos na área das energias renováveis através da sua participada, a EDP Renováveis, onde detém uma posição de 75%, e que é a 4ª empresa mundial do sector. Em 2009 a empresa investiu 3,285 mil milhões de euros, dos quais 2,556 milhões foram para expansão das actividades correntes, sendo o restante investimento de manutenção. Do total dos investimentos de expansão, cerca de 83% foram direccionados para a área das renováveis, demonstrando o comprometimento da empresa para investir nesta área, nomeadamente para expansão da capacidade de produção de energia eólica (nos Estados Unidos, Espanha e na restante Europa) e de energia hídrica através da construção e expansão de barragens em Portugal. Estes investimentos possuem ainda a vantagem de se enquadrarem em áreas que têm sido e vão continuar a ser bastante apoiadas por muitos governos de países desenvolvidos. Até 2011 a EDP promete investir cerca de 3 mil milhões de euros por ano com o objectivo de reforçar decisivamente as suas posições nos mercados onde se encontra instalada.
Estes investimentos têm contribuído para o aumento da dívida de empresa que em 2009 se encontrava nos 14 mil milhões de euros tendo subido 100 milhões em relação a 2008. Apesar do investidor em valor ser avesso a elevados níveis de endividamento, e necessário ressalvar que, no caso da EDP, a empresa possui negócios geradores de cash flows regulares e de elevada previsibilidade pelo que o nível de risco de incumprimento do serviço da dívida é mais baixo, sendo traduzido por um rating de risco de crédito, por parte das principais agências de rating, de A-. A empresa possui dinheiro em caixa e equivalentes no balanço da ordem dos 2,3 mil milhões de euros e linhas de crédito também no mesmo montante. As necessidades de refinanciamento para os próximos 2 anos são mínimas, pelo que a empresa se encontra numa situação financeira bastante confortável para poder avançar com os investimentos que tem planeados.
A empresa propôs um dividendo relativo aos resultados de 2009 de €0,155 por acção o que representa um aumento de cerca de 11% em relação aos €0,14 que foram distribuídos no ano anterior. Este valor traduz-se numa taxa de dividendo bruta de cerca de 5,5%, consideravelmente superior a qualquer remuneração de qualquer depósito a prazo disponível no mercado, sujeito à mesma taxa de retenção de imposto (20%) e com o potencial de ser aumentado no futuro caso os investimentos da EDP se traduzam em maiores lucros o que pode conduzir, também, a uma valorização do capital investido por via da apreciação do valor das acções.
A cotação da EDP foi afectada na últimas semanas pelos receios que a crise da Grécia, relacionada com o elevado nível de endividamento no país, se pudesse alastrar para Portugal, e ainda pelo facto de a Iberdrola, um dos maiores accionistas individuais da EDP, ter vendido 2,7% da empresa. A cotação da empresa que se encontrava confortavelmente acima dos 3 euros caiu, chegando a fazer um mínimo em fecho de cerca de €2,68, representando um PER (a relação entre o preço a que a empresa está a cotar e os lucros que gera) de 10 vezes os resultados estimados para 2010. Por um lado, os mercados já começam a distinguir um pouco mais a situação da Grécia da situação de Portugal e o Plano de Estabilidade e Crescimento que deverá ser apresentado em breve pelo governo português deve conseguir apontar um rumo para a consolidação orçamental até 2013 e convencer as autoridades europeias. Por outro lado, a Iberdrola prontamente clarificou que a sua posição actual na EDP (6,8%) é para manter, pelo que não serão de esperar mais alterações relevantes, a curto prazo, na estrutura accionista da EDP que conta, para além da Iberdrola, com o Estado (20,49%), a Caixa Geral de Depósitos (5,24%), a Caja de Ahorros de Asturias (5,01%) e a José de Mello - SGPS (4,82%), como maiores accionistas.
Para o investidor em valor que está atento às oportunidades que o mercado lhe proporciona, esta é uma boa ocasião para se adquirir um óptimo negócio, com uma gestão bastante competente, a um preço bastante razoável, que proporciona um rendimento bastante atractivo e com boas possibilidades de valorização. A EDP é a empresa de referência nacional e tendo sido distinguida, ainda na semana passada, como a marca portuguesa mais valiosa. Segundo o estudo “Top Portuguese League Table”, da Brand Finance, a marca EDP foi avaliada em cerca de 3,3 mil milhões de euros. No ranking das 500 maiores marcas do mundo a EDP aparece na posição 192º, sendo a marca portuguesa melhor posicionada. Uma excelente marca e um excelente investimento.
Disclaimer: Este comentário consiste unicamente numa opinião do autor e nunca uma recomendação de compra ou venda. As compras e as vendas são da responsabilidade do investidor, bem como os lucros ou as perdas daí resultantes. O Autor pode ter, e provavelmente tem, posições nos títulos referidos. Em caso de dúvida, o investidor deverá procurar contactar um intermediário financeiro, a Euronext ou a CMVM.
Hugo Roque
Sem comentários:
Enviar um comentário