segunda-feira, março 22, 2010

A Poupança

Nunca, como no passado recente, se discutiu tanto acerca da necessidade de poupar. Na verdade, a recente crise financeira e consequente grave recessão económica, resultante de muitos excessos dos mercados de crédito, veio contribuir para alertar os agentes económicos para uma função essencial que cumpre a todos salvaguardar: a Poupança. Velhos ditados dos nossos pais e avós provam que a sabedoria popular é sábia e realista neste aspecto da vida quotidiana: “Quem poupa, sempre tem.”, “Quem poupa o que tem, não mendiga o de ninguém.”, “No poupar é que está o ganho.”

Vários factores, exacerbados pela recente crise, contribuíram para alertar as sociedades para este desígnio cada vez mais fundamental. Desde logo, a necessidade de reduzirmos, a curto prazo, o elevado nível de endividamento (superior ao rendimento disponível, para as famílias) que havíamos incorrido recentemente como consequência de um clima geral económico estável, taxas de juro extremamente baixas e facilidades tremendas na contratação de créditos. É importante, agora, que as famílias recomponham os seus “balanços” familiares, readequando o nível de activos e proveitos que possuem para com as dívidas e despesas que suportam. Para tal deverão contribuir as condições macroeconómicas actuais, de baixa inflação e de juros reduzidos, que permitirão uma maior folga dos orçamentos familiares; as transferências do sector público para as famílias, relacionadas com o aumento automático das prestações de subsídios de desemprego e outras prestações de natureza social; também o regresso obrigatório de algum bom senso por parte dos consumidores que se estão a tornar muito mais ponderados nos seus actos de consumo, particularmente de bens de consumo duradouro; e a fundamental introdução de novas regras no sistema financeiro de forma a evitar que a ganância de alguns coloque em perigo a sustentabilidade das poupanças de todos. De acordo com o Banco de Portugal no seu Boletim Económico de Outono 2009, o aumento de algumas componentes relevantes do rendimento disponível “traduziu-se numa significativa subida da taxa de poupança em 2009, reforçando o seu ligeiro aumento verificado em 2008 e contrariando a tendência de descida ao longo da última década”.



A proporção da poupança no rendimento disponível das famílias aumentou significativamente, passando de 6,2%, em 2007, para 8,6% no final do primeiro semestre de 2009.
Fonte: INE e Banco de Portugal


A importância da Poupança é também justificada pela cada vez mais certa decadência do sistema de segurança social a longo prazo, em virtude da alteração da estrutura da pirâmide etária (aumento da idade média de vida, diminuição da natalidade e menor número de pessoas em idade activa); dos elevados défices incorridos por sucessivos governos, e agravados igualmente pela recente crise, que contribuíram para o aumento galopante da dívida do estado (estimada em 86% do PIB para o corrente ano), e que se traduzirá necessariamente e a prazo, num menor grau de liberdade por parte do orçamento do estado para suportar aumentos de prestações sociais; a fraca competitividade da economia nacional relativamente aos principais parceiros comerciais europeus mas também em relação às grandes economias emergentes, e que são concorrentes directos de muitas das nossas exportações, limita enormemente o potencial da economia e, como consequência, da saúde das contas nacionais, das famílias e do estado. Estes factores vão obrigar os contribuintes a pensarem, cada vez mais seriamente, em programas de poupança individual que compensem a já quase certa redução violenta das prestações de reforma. As reformas do sistema são recorrentes, e de acordo com estudos relativos à mais recente reforma, um cidadão que se reforme em 2050 pode ter direito a uma reforma equivalente a menos de 50% do seu ordenado.

A Poupança é importante hoje, como sempre foi, também porque faz sentido. Porque as circunstâncias da vida poderão exigir algum esforço financeiro momentâneo que não poderá ser correspondido se não constituirmos uma Poupança. Ou porque, no futuro, podemos desejar comprar ou trocar de casa, dar a oportunidade aos filhos de receberem uma boa educação ou querer manter o nosso nível de vida depois da reforma. É através da poupança que nos preparamos para enfrentar despesas futuras, previstas ou imprevistas. É um instrumento financeiro indispensável e que permite, se houver disciplina, alcançar os seus fins. No entanto, a poupança implica um plano de longo prazo para ser bem sucedido. Devemos contar com um período de tempo razoável para termos maior probabilidade de concretizar os objectivos.

Existem várias formas de poupar, mas o mais importante será perceber desde logo quais são os objectivos a cumprir a prazo, entender quanto se consegue poupar periodicamente, e ajuizar qual o melhor plano para a aplicação das poupanças, ou seja, qual a melhor combinação rentabilidade-risco que melhor se adequa ao perfil de investimento. Quanto menor o prazo para o objectivo em questão, menor o risco que se deve incorrer em termos do veículo de investimento. No entanto, quanto maior o prazo, maior a probabilidade de conseguir boas rentabilidades para as poupanças, se optar por opções de investimento mais rentáveis a prazo, como por exemplo uma carteira diversificada de acções, cuja performance a prazo em média ultrapassa todos os restantes instrumentos financeiros, e por uma filosofia de investimento disciplinada que limite os riscos, como o Investimento em Valor. Depois, é uma questão de aproveitar o potencial da capitalização de juros no longo prazo, que foi apelidada por Albert Einstein como sendo a força mais poderosa do Universo. Em baixo deixamos um pequeno quadro demonstrativo da relevância da escolha de um bom meio de investimento que seja capaz de salvaguardar, a prazo, uma boa taxa de retorno anual.



Iniciando com uma poupança de 50.000 euros, verificamos que, por exemplo, quem conseguir capitalizar o seu dinheiro a uma taxa de 15%/ano acaba no 10º ano com 184.688,51 euros, o que se pode comparar com um valor final de 60.949,72 euros para quem conseguir uma rentabilidade média anual de 2%/ano. Ou seja, uma rentabilidade mais de 12 vezes superior. Uma diferença significativa.

Disclaimer: Este comentário consiste unicamente numa opinião do autor e nunca uma recomendação de compra ou venda. As compras e as vendas são da responsabilidade do investidor, bem como os lucros ou as perdas daí resultantes. Em caso de dúvida, o investidor deverá procurar contactar um intermediário financeiro, a Euronext ou a CMVM.

Hugo Roque

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